Sinova recebe visita internacional da comitiva da UNSA

05/03/2020 13:55
Visita da Comitiva da UNSA na Sinova

Da esquerda para direita: Prof. Pedro Melo, Prof. Fred Ângulo Salas, Prof. Ana Mana Gutierrez, Prof. Horácio Barreda Tamayo, Reitor da UNSA Prof. Rohel Sánchez Sánchez e o Secretario de Inovação Prof. Alexandre Moraes Ramos.

A UFSC recebe nos dias 04 e 05 de março a visita da comitiva do corpo diretivo da Universidad Nacional de San Agustín de Arequipa (UNSA) do Perú.  A convite do Reitor Ubaldo César Balthazar, o objetivo é estreitar parcerias e identificar potenciais áreas de interesse em futuros projetos de inovação com foco na criação de startups e centros de inovação.

Como parte do roteiro de visitação, que inclui a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e o Grupo de
Pesquisa FOTOVOLTAICA-UFSC, a comitiva esteve presente nessa quinta-feira (05) na Secretaria de Inovação da UFSC. A comitiva foi guiada pelo Secretário de Inovação, Prof. Alexandre Moraes Ramos e pelo chefe do Departamento de Administração da UFSC, Prof. Pedro Melo, que apresentaram a secretaria para o Reitor da UNSA, Prof. Rohel Sánchez Sánchez e seus acompanhantes.

Inovação Farmacêutica & Propriedade Intelectual – Inscrições Gratuitas

08/05/2018 23:30

15/05/2018 no Auditório da Pós-Graduação em Farmácia (CCS):

DESCRIÇÃO E OBJETIVOS

Evento com 6 horas de duração tem objetivo aproximar profissionais regionais e disseminar conhecimentos sobre as mais diversas oportunidades para inovação no segmento farmacêutico, dentro de um contexto histórico e com vistas ao futuro. Também como objetivo disseminar conhecimentos sobre propriedade intelectual, especialmente sobre o uso de patentes e informações tecnológicas em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, assim como temas essenciais para a efetiva tradução de ciência em desenvolvimento tecnológico, econômicos e sociais.

A QUEM SE DESTINA

Profissionais, dirigentes e colaboradores de empresas do segmento farmacêutico, de órgãos de governo e de instituições acadêmicas, científicas e tecnológicas, alunos de graduação e de pós graduação em áreas farmacêuticas e afins,  interessados em trabalhar de forma mais efetiva para desenvolver produtos e serviços, assim como promover o acesso a novos produtos, novas tecnologias e serviços na área de saúde, com destaque ao segmento farmacêutico.

PROGRAMA

  • 08h30-09h00 – Credenciamento
  • 09h00-09h15 – Abertura
  • 09h15-09h30 – Apresentação da Academia Nacional de Farmácia
  • 09h30-10h30 –  O Círculo Virtuoso da Inovação Farmacêutica
  • 10h30-11h00 – Outorga da “Láurea João Florentino Meira de Vasconcellos de Inovação Farmacêutica” a profissionais que reconhecidamente tenham se destacado em atividades de prestação de serviços, produção científica, disseminação do conhecimento e empreendedorismo em ciências farmacêuticas e afins.
  • 11h00 – 11h15 – Intervalo
  • 11h15-12h30 – A Propriedade Intelectual no contexto farmacêutico, com destaque as patentes.
  • 12h30-14h00 – Intervalo
  • 14h00-15h15 – Uso estratégico de patentes e informações patentárias
  • 15h15 -15h30 – Intervalo
  • 15h30-17h00 – Fontes, ferramentas e sistemas de busca e análise de informações, com foco na área farmacêutica. Exemplo de caso: roteiro para análise preliminar de cenário, para o desenvolvimento de combinação de dose fixa de fármacos
  • 17h00 -17h30 – Encerramento.

Inscrições gratuitas: http://cienciasfarmaceuticas.org.br/event/florianopolis-sc-oficina-inovacao-farmaceutica-propriedade-intelectual-inscricoes-gratuitas/

Dissociação entre Ciência e Inovação no Brasil: a necessidade de uma Política de Estado de longa duração

03/03/2015 10:26

Por: Prof. Dr. João Batista Calixto

 

Vou tocar em um tema que é um pouquinho delicado para nós, cientistas, mas que precisa ser discutido, que é o distanciamento entre a academia (pesquisa básica) e indústria necessário ao processo de inovação. A palavra “inovação” já está um pouco saturada no Brasil porque se fala muito, mas não se vê mudanças muito importantes, por várias razões. Eu vou tentar abordar algumas questões sobre o tema, mas como tem muita gente jovem aqui, começo perguntando: o que é inovação? Todo mundo fala em inovação e muita gente confunde inovação com patente, mas inovação é a introdução de uma novidade em um ambiente produtivo, quer dizer, um produto que você tem que colocar no mercado, na prateleira da farmácia, por exemplo. No Brasil, ainda não temos muita experiência em inovação tecnológica e, é por isso que a necessária interação entre as universidades e centros de pesquisa com o setor industrial ainda está na sua infância. Existem processos de inovação que são muito simples, que pode ser apenas uma pequena melhoria incremental de um produto, mas, mesmo assim, não deixa de ser importante para o avanço industrial e a melhoria da competitividade da empresa, e aquela denominada radical, que é em geral a que todos procuram. O problema é que o Brasil está ficando assim:“A inovação é o nosso lema. O único problema é que nós não a praticamos”. Essa frase pode ser aplicada para a maioria das discussões recentes sobre o tema. Não me parece ser uma questão exclusivamente de falta de recursos, tem aparentemente mais relação com a nossa cultura e as nossas dificuldades de enfrentar novidades e assumir riscos, sobretudo com produtos de longo prazo de maturação. O que se nota, é que estamos enfrentando muitas dificuldades para mudar essa cultura, sobretudo quando deparamos com os aspectos regulatórios, caracterizados pela enorme burocracia do Estado, que precisa ser destravada para que a inovação aconteça. Nós achamos que isso é novo, mas o nosso maior fisiologista, o pai da fisiologia moderna, Claude Bernard, já dizia há mais de um século que “inovador é aquele que enxerga as coisas igual a todo mundo, mas pensa diferente sobre o assunto”. Quer dizer, é a pessoa, não necessariamente um cientista, que está aberto ao processo de inovação. Isso já é observado na infância, melhora na escola secundária e é aprimorado na universidade moderna, fato que tem sido extremamente praticado nas melhores universidades americanas. Assim, os países que inovaram e tornaram‑ se desenvolvidos têm algumas características comuns: 1. Não é possível ter desenvolvimento sustentável sem uma ciência básica de qualidade. 2. Conhecimento gera monopólio, que é a patente, e isso é necessário. Quem investe no risco não pode prescindir da patente, porque os investidores que estão colocando seu próprio capital dependem do retorno desse capital. É um investimento grande, então há uma polêmica quanto a essa questão no Brasil que a gente não resolveu totalmente ainda. 3. Conhecimento científico é, em sua maioria, produzido em universidades, e a universidade, como o Perez falou, não tem necessidade de fazer a segunda etapa. Ela pode até fazer, algumas fazem, mas essa não é a missão principal dela, é a missão dos institutos e das indústrias. O que falta no Brasil é a união dessas duas forças, para que haja sinergia. Dados recentes dos BRICS mostram que o Brasil é um país que tem investido parcela importante de seu produto interno bruto em pesquisa e desenvolvimento. Obviamente, o investimento da China é muito maior, a Coreia é a que mais investe, mas no Brasil tem crescido muito, sobretudo a partir dos anos 2000. Com isso, criamos uma infraestrutura especialmente importante com relação à formação de recursos humanos na pos‑graduação, o que nos sugere que o alicerce para o processo de inovação tecnológica está construído, sob o ponto de vista de investimento de longo prazo. O Brasil tem avanços de primeiríssimo mundo associados a deficiências de terceiro mundo. Por exemplo, estamos formando mais de 13 mil doutores por ano, tivemos 37 mil artigos publicados em revistas indexadas em 2013. Isso é muita coisa. Temos cerca de 2,7% da ciência mundial, ou seja, é um país pujante, estamos em 13º lugar nesse ranking. Somos ainda mais pujantes na agricultura, porque somos o maior produtor de grãos do mundo, quer dizer, isso é ciência, que transformou a informação em conhecimento; temos o domínio da exploração de petróleo em águas profundas, que talvez seja tão importante quanto desenvolver medicamento. É a tecnologia. Temos a Embraer, que foi citada. Mas se a Embraer tivesse sido regulamentada pela ANVISA, talvez o avião fabricado no Brasil nunca tivesse voado. O que foi feito de importante? A pos‑graduação. Quer dizer, não há dúvida hoje de que a pós‑graduação foi uma das coisas que o Brasil mudou nos últimos 30, 40 anos. Em 2012, tínhamos 5 mil programas de pós‑graduação, doutorado, mestrado, e mestrado profissional. Isso não existe em nenhum país da América do Sul, isso trouxe uma novidade. Mas a pergunta é: formamos doutores certos para as áreas certas? Aí temos que discutir, porque vemos que está faltando pessoal qualificado em algumas áreas de extrema importância para a inovação tecnológica. Há muitos doutores acadêmicos e a formação vem crescendo exponencialmente, logo vamos chegar a 15 mil doutores formados por ano. É muita gente formada, tem muita especialização, mas tem um problema: nós não priorizamos as áreas, e é por isso que a biotecnologia é uma área em que ainda não se tem esses doutores em quantidade. Da mesma forma, a produção científica está crescendo de forma impressionante. Mas esse conhecimento gerou riqueza? Não só riqueza, mas bem‑estar para a população, para a sociedade? Esse é uma questão que devemos discutir abertamente. Todo mundo sabe o diagnóstico, mas a gente não consegue avançar muito, e na área da saúde essa questão é muito curiosa. Em relação aos países da América Latina, o Brasil investe o dobro em P&D. No entanto – esse é um dado da revista Nature (veja Quadro 1) – a qualidade das publicações científicas não cresceu nessa relação. Uma pesquisa divulgada em junho pela revista sobre a ciência na América do Sul me deixou surpreso: a quantidade de artigos aumentou muito, mas, proporcionalmente à população, se mantém equivalente a Argentina, Chile e Uruguai. Além disso, a Argentina ainda tem mais pesquisadores per capita em sua população e um impacto maior de suas pesquisas. O Peru, por sua vez, tem mais parcerias internacionais. São dados da Nature, eu não estou questionando. O que está acontecendo com a nossa ciência? Quer dizer, ela é pujante, forma muitos doutores, tem muita publicação, mas quando você vê essa pesquisa, fica um pouco assustado. Quando o Web of Science (veja Quadro 2) analisa área por área da nossa ciência, todas elas estão negativas em relação a média de citação mundial. A melhor área é a matemática, a física também está bem, a geociência, mas muitas áreas relacionadas a inovação tecnológica ainda estão bastantes deficientes. Todavia, essa não é uma questão somente do Brasil, todos os países que estão em processo de desenvolvimento têm um perfil semelhante. Nosso problema agora é qualidade, acho que é a discussão maior que está chegando. A isso vem se somar algumas características próprias de países que inovam, como foi dito na palestra anterior: confiança na instituição e nas pessoas. Se não houver confiança nas instituições e nos pesquisadores, seu investidor vai dizer: “Não vamos gastar dinheiro à toa”. Além disso, há a questão da cooperação baseada em meritocracia. Estamos vivendo um déficit muito grande meritocracia nas nossas universidades, porque mérito não é mais aquilo que rege a nossa sociedade em muitos casos. É preciso haver mercados regulados e transparência: saber que se vai ter uma patente em tanto tempo, saber quanto demora para fazer um registro, coisa que aqui no Brasil você não tem. Ética, respeito à propriedade, patente, trabalho em equipe… Existe uma questão ideológica e pragmática: o Brasil é signatário do sistema de patente mundial, mas tem um cara lá no instituto de patente que não gosta de patente, portanto ele vai contra. A gente vive essa questão de dubiedade. O governo às vezes tem uma prioridade, mas alguns indivíduos em instâncias inferiores têm outra, e isso gera uma incerteza muito grande para o processo de inovação. O país não inovador aposta no curto prazo, tenta se agarrar ao certo e evita o risco. Esse é o conceito que estamos passando para os nossos jovens nas universidades, por isso você quase nunca forma jovens inovadores. Você forma pessoas para serem empregados. É raro você ver sair das universidades pessoas capazes de criar suas próprias empresas, então essas questões precisam ser discutidas. Em relação ao processo de inovação em medicamentos, isso se torna ainda mais difícil. Como já foi falado, as chances de se desenvolver um medicamento novo que chegue ao mercado é de menos de 1%. Quando a nova droga visa a um alvo já existente, a chance vai para 6%. O custo real estimado é de cerca de US$ 1 bilhão ou mais, contudo muitos acreditam que esse valor não ultrapassa os US$ 200 a 300 milhões. Os outros custos são propaganda, custo do dinheiro, etc. É por isso que os novos medicamentos são caros, e vão ser cada vez mais caros para a sociedade, porque um único produto que dá certo tem de pagar dezenas e dezenas de outros que dão errado durante o processo de desenvolvimento. Mas, a maioria, senão quase todas os medicamentos desenvolvidos, tiveram apoio da academia. Como se falou aqui, por mais que a empresa tenha cientistas bem treinados, ela precisa do apoio da academia. A quantidade de medicamentos registrados cuja pesquisas originais iniciaram no IH [National Institute of Health, equivalente ao Ministério da Saúde dos EUA] é impressionante. Isso ostra que precisamos, sim, estreitar as parcerias entre universidades, institutos de pesquisas e empresas. O trabalho científico que deu origem às estatinas, por exemplo. Os resultados foram publicados em uma revista com fator de impacto menor de 5 – então, para aqueles que gostam de falar de impacto dos trabalhos publicados, ela não era uma boa revista. Mas o trabalho publicado nela deu origem às estatinas, ou seja, nasceu na universidade, depois a Merck levou esse conhecimento ao mercado, uma inovação radical. O Perez foi realmente muito corajoso, mesmo não sendo da área da saúde, porque ele chegou para dois empresários e disse: “Vamos entrar nessa área”. É reconhecido que o chamado vale da morte da inovação de medicamento é um abismo interminável. A maioria das pesquisas não avança, porque a área é muito regulada; as chances de sucesso são pequenas e os riscos muito grandes. Isso significa o quê? Que temos de mudar a mentalidade do brasileiro para apostar em projetos de maior risco e, sobretudo, de longa maturação. Tudo que envolve inovação envolve risco, alguém vai ganhar, alguém vai perder. Outro artigo da Nature mostra um aspecto fundamental: a universidade que mais inova, que tem mais patentes, é a Universidade da Califórnia, sobretudo em biotecnologia. E o artigo mostra ainda que os trabalhos que a universidade pública em parceria com a indústria têm o dobro de citações comparado aos trabalhos que ela produz com verba do NIH. As patentes que ela licencia são muito mais ligadas a essas parcerias do que a outras. E os pesquisadores mais importantes que ela tem são os que têm essa ligação com a indústria. Então isso nos dá a sensação de que aqui o pesquisador não quer sair da zona de conforto, porque a indústria cobra muito, a indústria trabalha com tempo rígido para atingir suas metas. E obviamente existe a questão do dinheiro. Como foi mencionado, a indústria farmacêutica é a que mais investe em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em todo o mundo, mais do que a aeronáutica, computadores etc. E esses investimentos são cada vez maiores: em 2010 chegaram a US$ 120 bilhões. E cada vez menos drogas são lançadas no mercado. É uma contradição, e por quê? Porque as doenças ficaram complexas, porque as agências regulatórias estão cada vez mais exigentes e porque a concorrência é muito grande. Um medicamento como a aspirina, por exemplo, hoje jamais seria registrado, e ela tem mais de 100 anos. Onde todo esse dinheiro é gasto? Cerca de 25% são usados na fase pé‑clínica. O maior montante é gasto na fase clínica: 57%. A aprovação também custa muito dinheiro. Então, como as drogas morrem, muitas delas bem no finalzinho, evidentemente o dinheiro já foi embora. Se formos ver os medicamentos aprovados ao longo do tempo, nos últimos dez anos eles não passam de 18 a 20, talvez 30 novos medicamentos a cada ano e em torno de seis medicamentos biológicos anuais. Agora, nós temos a questão do Brasil e do “país da inovação”. Eu nem gosto de falar de patente, porque patente é quase nada, é uma promessa, mas é necessária, é um desejo de desenvolver algo. A China disparadamente é o país que mais está produzindo patentes nos últimos anos, muitas mil. Depois vem a Coreia, depois a Rússia. O Brasil produz cerca de 100 patentes internacionais por ano, em todas as áreas. De 2006 a 2010 não mudamos nada, mas tivemos 37 mil papers acadêmicos publicados no último ano. Então alguma coisa nós temos que rever. Se você fizer essa continha que fiz com dados de 2005, dividindo o total de papers por patentes, os países desenvolvidos, todos os que desenvolvem medicamentos, têm uma faixa de 7 a 10 papers por patente. Estão incluído nesta lista o Japão, Alemanha, USA, Alemanha, Inglaterra, Coreia… O Brasil está na última colocação. É um dado preocupante, a gente precisa ver o que está acontecendo no Brasil, saber por que a pesquisa não vai mais adiante. Uma das respostas é a seguinte: a média de tempo de aprovação de uma patente é de 2 anos, 2 anos e meio, em todos os países desenvolvidos que eu citei. A média no Brasil pode variar de 9 a 14 anos. Então nenhum investidor vai acreditar em um produto que em geral tem um monopólio de exclusividade de 20 anos para ser comercializado. O pessoal vai registrar lá fora, e assim não temos o mercado aqui dentro. E se você somar isso ao tempo que a ANVISA demora para aprovar um estudo clínico, o ciclo pode chegar a 30 anos. Essas são questões que podem e devem ser resolvidas, porque jogar dinheiro em um sistema desse é perder dinheiro. Enquanto isso, o nosso déficit comercial na área de medicamentos continua crescendo absurdamente. Os genéricos, por exemplo, foram importantes, mas estamos importando matéria‑prima de vários países para a fabricação dos medicamentos aprovados. Em 2011, isso chegou a US$ 9 ou 10 bilhões. É muito dinheiro. Isso é déficit de conhecimento, e a pergunta é como o SUS vai suportar esses elevados custos? Não suporta. É uma questão de aritmética. Não suporta, porque a tendência é a de que as doenças se tornem cada vez mais complexas, a população brasileira está envelhecendo e os novos medicamentos, como já foi discutido, estão cada vez mais caros. Por que esse processo não tem dado certo no Brasil? Primeiro: você tem que ter um projeto de pelo menos duas décadas, se não, não sabe sequer onde errou. Depois, você tem que ter uma visão global. Não adianta desenvolver o medicamento para o Brasil, você tem que desenvolver um medicamento global. Outra coisa: é preciso evitar a fragmentação dos financiamentos aos projetos. Alguém já falou aqui antes de mim, há vários editais para a mesma coisa. Com dois anos de financiamento não se faz nem metade dos estudos não clínicos de uma nova molécula, então eu acho que se quisermos inovar no Brasil, nós temos de repensar nosso sistema de financiamento. Temos que ter financiamento de longo prazo em áreas de risco e parceria com as indústrias e apostar nos recursos humanos qualificados que a gente tem e, especialmente, na nossa vasta biodiversidade. Trouxe aqui o exemplo da EMBRAPA. Por que a EMBRAPA deu certo? Eu fiz os seguintes exercícios: ela foi fundada em 1972, ainda no regime ditatorial. Desde que ela foi criada, demorou dez anos para surtir algum efeito, porque teve de formar o doutor, mandar pessoal para o exterior, treinar os agricultores… Mas na hora em que começou a crescer, o impacto causado nas nossas exportações de grãos chegou à casa dos bilhões de dólares. É sem dúvida um caso de grande sucesso. Se fizermos a relação de quanto o governo investiu na EMBRAPA e de quanto ela retornou e vem retornado para o país, a relação é inacreditavelmente grande. É esse dinheiro que está pagando o nosso déficit na área de medicamentos, por exemplo. Esse déficit equivale a toda a produção agrícola do Estado do Mato Grosso do Sul, o maior produtor de grãos do Brasil. Para finalizar, o governo descobriu que temos alguns gargalos grandes na cadeia de inovação em medicamentos. Uma das razões é que a Universidade e os Institutos às vezes têm produtos, mas não conseguem testar esses produtos para levar à fase clínica. E é na fase clínica que você pode chamar alguma coisa de candidato a novo medicamento. Até lá você tem um composto que promete, mas só a partir do primeiro teste humano é que se torna realmente um candidato em potencial. E uma das coisas que não existia no Brasil eram centros de pesquisas com laboratórios certificados que atuassem dentro dos padrões internacionais, com animais de alta qualidade, para realizar estudos não clínicos que viessem a ser aceitos nos organismos reguladores internacionais, como por exemplo, o Food and Drug Administration ( FDA). Então o governo financiou três institutos: um deles é esse que estou dirigindo, em Florianópolis. Tem um na Fiocruz, mais voltado para pesquisas de drogas negligenciadas, e um de pesquisa clínica no Ceará, que está em fase final de construção. E o que estamos vendo? Conseguimos o dinheiro, construímos, mas quando você abre as gavetas para ver onde os problemas estão, ficamos assustados. Se eu soubesse desses enormes desafios, talvez tivesse pensado mais antes de aceitar esse enorme desafio, porque nós estamos muito distantes nos aspectos regulatórios em relação aos países desenvolvidos. Falta muita coisa, a começar na ANVISA, que tem carência de pessoal especializado que entenda de pesquisa básica na área de estudos não clínicos e de especialistas em pesquisas clínicas, especialmente com treinamento na área de desenvolvimento de medicamentos. No INPI, alguém que tenha vasta experiência em patente, e em vários locais… Em geral a burocracia sempre nos diz que nada pode. O sistema regulatório existente existe basicamente para atender a demanda das grandes companhias farmacêuticas multinacionais, que quase não usam o sistema brasileiro para seus processos de inovação, pois os processos de descobertas e desenvolvimento de novos medicamentos são realizados nos laboratórios e universidades em países desenvolvidos. Vocês não têm ideia do que é importar, trazer para o Brasil, uma colônia de animais de alto padrão sanitário para poder desenvolver pesquisas não clínicas de padrão internacional. É muito mais fácil importar cem bois, porque o boi já é uma tradição. A ANVISA proíbe, o Ministério da agricultura exige 200 mil documentos… Aí você descobre que a ração daqui não é a ideal, então tem que trazer a ração de fora; pior: a caminha em que o animal dorme é feita de um pinus, mas o que nós temos aqui solta um óleo essencial tóxico, então não serve, tem que importar. E assim vai. Você começa a ver documentação, todas essas coisas, que foram solucionadas nos países desenvolvidos desde a década de 1970, as chamadas boas práticas de laboratório… Esse centro em que estamos trabalhando foi financiado pelo Ministério da Saúde, Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo Governo do Estado de Santa Catarina, e a gente está realmente trabalhando para fazer ele funcionar. Eu falei que tinha 15 mil doutores, e quando fomos contratar pessoal para o centro, observamos que não havia gente treinada, porque eram todos doutores, mas não foram treinados em áreas estratégicas para o desenvolvimento de medicamentos, como a farmacocinética, toxicologia, farmacologia de segurança etc. Então tivemos que mandar oito doutores para serem treinados nos laboratórios da Sanofi (USA, Alemanha e França), com apoio da CAPES e do programa Ciência Sem Fronteiras. Tivemos também que contratar vários consultores internacionais para treinar nosso pessoal. Quer dizer, dá para fazer, mas estamos em uma situação em que não é somente falta de recursos, existem como discutido acima, muitas questões que travam a inovação além da falta de recursos financeiros. É muito difícil e a gente tem que consertar isso e mostrar que a ciência brasileira precisa ter um novo caminho e se tornar globalizada. Precisamos melhorar a qualidade, mas certamente priorizando algumas áreas, e acho que vamos ter que importar pesquisadores e pessoas treinadas de indústrias e de centros de pesquisa para vir trabalhar e ajudar alguns centros aqui no Brasil. A ANVISA, sem dúvida, precisaria mandar 10, 20 doutores para serem treinados no NIH, para o FDA, indústrias e outras agências que regulam medicamentos em todo o mundo. Como pode, por exemplo, um jovem graduado em farmácia analisar um enorme dossiê contendo dados de mais de 10 anos de pesquisas não clínicas e clínicas na fronteira do conhecimento, por exemplo, em áreas como câncer, doenças do sistema nervoso central, sem um treinamento minimamente adequado para poder realizar essa tarefa? Termino por aqui, não pessimista, ao contrário, consciente dos enormes desafios para o Brasil realmente possa avançar na inovação tecnológica, tão necessária para criar novos empregos, reduzir nosso déficit de conhecimento e geral riqueza para a sociedade. Como discutido, conhecemos muito bem onde estão os problemas, nossas fraquezas e, sobretudo, o que tem que ser feito para avançarmos. Os recursos são necessários, mas neste momento precisamos de muito mais que recursos financeiros. Procurar resolver esses problemas discutidos acima, desatar a nossa enorme burocracia, valorizar cada vez mais a meritocracia, são questões importantes que considero imprescindíveis se quisermos de fato avançar no processo de inovação tecnológica. Para isso, temos de correr alguns riscos, que envolvem tanto o governo, os empresários e a comunidade científica. Do contrário, nosso futuro será muito ruim. No caso de uma área estratégica como é a saúde, se ficarmos à mercê de importar todos os sais, importar produtos acabados como vai ser? Agora vêm os biossimilares, e se nós não dominarmos essa tecnologia, vamos ficar reféns das mesmas empresas produtoras estrangeiras que fazem os seus desenvolvimentos. Felizmente, a Recepta e a Cristália destacaram aqui neste simpósio que esse processo complexo de inovação mais radical é possível de ser feito no Brasil, mas não vejo as demais indústrias farmacêuticas nacionais caminharem nessa direção. O que vejo muito, é a tentativa pura e simples de compra e transferência de tecnologia, o que pode ser bom no curto prazo, mas em longo prazo representará, sem dúvidas, mais déficit de conhecimento e aumento crescente da nossa dependência dos país desenvolvidos. E isso não é o que todos almejam? Fonte: http://eep.hc.fm.usp.br/apostilas/saude-publica/  

INPI oferece curso gratuito “Contratos de Tecnologia”

11/02/2015 17:19

O INPI está oferecendo o curso “Contratos de Tecnologia”, que tem como objetivo apresentar uma visão dos contratos de transferência e licenciamento de tecnologia.

O curso é gratuito, e será oferecido na sede do INPI/RJ (Rua Mayrink Veiga, 09, 17° andar, Sala 07.  Centro do Rio de Janeiro/RJ), no dia 19 de março de 2015, das 08:30 às 12:30 hs.

Inscrições pelo site http://epesquisa.inpi.gov.br/index.php/625744/lang-pt-BR , até o dia 06 de março de 2015. Vagas limitadas.